Em 1808, quando a família
real portuguesa chegou ao Brasil, um libanês ofereceu
sua casa para D. João VI como residência imperial.
Antun Elias Lubbos, também conhecido como Elias Antônio
Lopes (nome que adotou no Brasil), era proprietário
de terras na Prainha e possuía um açougue
de carne de carneiro e uma casa de secos e molhados na Ponta
do Caju.
A residência que ele ofertou a D. João VI se
tornou a Casa Imperial Brasileira (onde nasceu D. Pedro
II) e, posteriormente, o Museu Nacional da Quinta da Boa
Vista. Essa história consta dos arquivos da Biblioteca
Nacional de Portugal, e no museu Histórico e Geográfico
Nacional podem ser vistos documentos relacionados a essa
ocasião.
A emigração de libaneses para o Brasil, como
se observa, é antiga e se intensificou na segunda
metade do século 19. Durante o domínio otomano,
especialmente após o massacre de 1860, ocorreu uma
emigração em massa para a América do
Sul. Os libaneses portavam um passaporte fornecido pelas
autoridades turcas, que concediam a permissão oficial
para a viagem; por isso, os libaneses eram (e ainda são,
em algumas regiões) chamados de "turcos".
De fato, qualquer cidadão oriundo daquela região,
fosse ele palestino, sírio ou persa, era conhecido
no Brasil como "turco".
Cada emigrante libanês tem uma história própria.
Alguns desejavam retornar à terra natal (vinham ao
país por questões econômicas e sonhavam
com um retorno mais próspero; com o fim da Primeira
Guerra e a derrota do Império Otomano, parte dos
imigrantes retornou à região); outros decidiram
permanecer e educar os filhos no Brasil. Depois, trouxeram
mais familiares para o país.
Espalhados em diversos Estados brasileiros, do Amazonas
ao Rio Grande do Sul, na capital ou em aldeias remotas,
os libaneses se dedicaram a várias profissões:
alguns se embrenharam pelo interior do Brasil e, de porta
em porta, mascatearam seus artigos e venderam à vista
ou a crédito. Outros tornaram-se agricultores, médicos,
empresários, donos de fábricas têxteis,
de vidro, artefatos de couro, ourivesaria etc.
Devido à dificuldade de pronúncia dos nomes
árabes e do estranhamento (e, eventualmente, perseguição)
que provocavam, alguns emigrantes alteraram o nome de origem,
adaptando-o ou traduzindo-o para a língua nativa
da nova terra. No Brasil, Tanus al Bustani passou a se chamar
Antonio Jardim ou Jardineiro, tradução aproximada
do original árabe. Durante muito tempo, esse costume
perdurou, mas nos últimos anos a prática caiu
em desuso e os erros de grafia na transliteração
se tornaram bem menos freqüentes.
A culinária libanesa tornou-se bastante conhecida
dos brasileiros. Pratos como quibe e esfiha são vendidos
em muitos restaurantes e lanchonetes brasileiros ao lado
de empadas e outros salgados. A integração
caracterizou essa emigração.
Atualmente, há cerca de 7 milhões de libaneses
e descendentes no Brasil. O maior núcleo vive em
São Paulo, mas há comunidades importantes
em muitas outras regiões do país.